O advento da internet (e o acesso generalizado mediante banda larga) criou uma nova modalidade de comunicação mediada, e consequentemente uma nova cultura. Esse tipo de comunicação não é exclusividade da internet: muito antes, o telefone já se interpunha entre locutor e interlocutor. Mas, frise-se, nunca da maneira que a internet engendraria.
Em tempos passados, o telefone era usado com frequência, mas não elidia o contato direto, físico e visual, com a pessoa. Isso já não ocorre com a internet. Com o surgimento de vários suportes de relacionamento on line, tais como messenger, orkut, chats de bate-papo e, mais em voga ultimamente, o Facebook, as pessoas pararam de se encontrar, e de usufruir dos benefícios que essa modalidade de comunicação tem a oferecer.
Por um lado, isso poderia gerar um otimismo para aqueles que enxergam nos tempos atuais uma relação escassa com a língua escrita. Afinal, já que o brasileiro em geral não tem muita estima pela leitura, a internet propiciaria ao menos um contato e interação maior com essa leitura. No entanto, o que se observa é que nossa costumeira frivolidade já foi assimilada pelo mundo seminal da web.
Exemplos não faltam: no orkut e Facebook proliferam usuários cuja principal preocupação é a de ostentar sua gama extremamente extensa de amizades e relações sociais. As fotos que postam dos lugares mais exóticos e badalados revelam uma necessidade de se expor, como a dizer que sua vida não está tomada pela anemia existencial que grassa na da maioria das pessoas e (por que não?) na de seus seguidores. Há toda uma superficialidade nisso, uma vez que muitas vezes uma pessoa assim tão relacionada mal tem contato com essas mesmas pessoas de seu círculo e, quando esse contato ocorre, a comunicação é rasteira, sem qualquer relevância ou profundidade.
O blog é outro veículo (ou gênero textual?) que está saturado dessa mesma frivolidade. Pela blogosfera dissemina-se a prática de comunicação pelo interesse: blogueiros acessam blogs alheios comentando elogiosamente os posts para, ato contínuo, pedirem para que o autor os visite em sua página. Isso sem falar que o diálogo inexiste, ou seja: o autor do post não se dá o trabalho de debater com seu visitante eventualmente consistente as ideias que este acrescenta ao texto. Das duas uma: quando o visitante não é superficial, o autor do blog é, interessado apenas em audiência para seu veículo de monólogo narcisista.
Em todos esses veículos, inclusive, o diálogo (ou texto) que se estende muito não é visto com bons olhos. O leitor hodierno é avesso a uma leitura mais profunda que exige mais, um argumento que se alonga em prol da plenitude. Daí que a internet não auxilia nos índices de leitura relevante, embora possa aumentar sim o letramento do seu usuário, no sentido de expô-lo a um maior número de gêneros textuais. Contradição? Não vejo dessa forma. O leitor pode muito bem discernir uma receita de um tweet, mas isso não o capacita a ler um conto ou uma poesia, assimilando suas mensagens essenciais sem as quais a vida sempre será mais pobre.
O que o futuro da comunicação mediada reserva às relações humanas? Será possível que o contato com o outro seja totalmente elidido, em benefício do que se processa on line? O leitor futuro estará fadado a incapacidade e compreensão profunda do que lê? A tendência da comunicação mediada desumanizará progressivamente o ser humano?