terça-feira, 17 de julho de 2012

A sacola




Folhas decaídas, a vida ao marrom abatido,
Beleza, renascida a fotossíntese...
Carícia do vento e o afago das coisas
Que nunca foram, em olhos anistiados.

No beco adiante do serviço, à tarde
Lembrar... eu tenho que lembrar...

A sacola no beco, dançando comigo
Uma valsa no silêncio de incontida existência
Um doce sabor de melodia entardecida...
Essa sacola, a dançar comigo...

Brevemente a nota se acentua
A sacola do hipermercado traceja, ascendente
A encantadora expectativa, o ápice da melodia
O paroxismo violento da vida...
Desaba.

A sacola segue, telúrica, entre as folhas
A ritmia insurge no bairro vazio
Ao longe carros passam, sempre passarão
No marrom agoniza o sol do feriado
Tecido, entre nós, o fio do cotidiano...

Em meio as pobres casas, o onipresente asfalto e os postes sentinelas
Eu, o sol, o vento, as folhas...
Eles concretos, nós infimamente concretos
Mas passaremos
Como os carros
As nuvens
Lembrar... eu preciso lembrar...

Porém a sacola do hipermercado, no beco, entre as folhas
Valsa, nem rebelde, nem passiva
Valsa perante meus olhos tão inválidos
E me fará lembrar...

Ah! Às vezes também sinto...
Mundo que vela a vida por trás das coisas
Toda essa beleza-algoz que me sufoca
E coisas que não vi, a ameaçar o fio tão rijamente tecido
Como não ameaçamos;
Às vezes... às vezes...

Como essa sacola cortejando as folhas
Nessa valsa de notas ascendentes,
A tracejar no ar a graciosa melodia do silêncio
E no silêncio, telúrica, com a vida em seu interior
Suavemente
Cai.

        Direitos reservado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário